quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Quando é dia de futebol

Um olhar encantado. Atenção aos mínimos detalhes. Tudo à minha volta parecia uma grande festa – e era mesmo. Movimentação, cores, gritos enlouquecidos, a fumaça que saía das churrasqueiras improvisadas, a chuva de cerveja e outros líquidos menos nobres (faz parte) e, o melhor de tudo, as bandeiras tremulando. Na cabeça infantil pairavam algumas tolas perguntas, típicas de quem só havia visto tudo aquilo pela televisão. Mas elas perderam a importância ao soar do apito daquele homem de preto. Agora era verdade. Eu, finalmente, estava ali, acompanhando, ao vivo, minha primeira partida de futebol.
Aos sete anos de idade, acho que até demorei a entrar num estádio. Hoje, vejo crianças de colo, bebês que nem entendem o porquê daqueles homens estarem correndo atrás de uma bola no gramado, devidamente uniformizados, com seu time já escolhido pelos pais. Sim, pois para um apaixonado por futebol, é uma afronta o filho não seguir a sua preferência clubística. Faz bem, portanto, o Clayton, meu chefe aqui no Diário, que mal soube que será pai de um menino, de imediato traçou planos para o futuro esportivo do herdeiro.
Mas qual a graça, o que de tão apaixonante tem o futebol? Perdi a conta de quantas vezes me perguntaram isso. Digo sempre o seguinte: se a pessoa não vê, de cara, a beleza, a plasticidade de um drible bem dado, seja ele por baixo das pernas do adversário, um lençol, um elástico, uma meia-lua; ou a dramaticidade contida no arco perfeito de uma bola chutada rumo ao ângulo do goleiro, que se estica todo e, por apenas um milímetro, não consegue tocá-la, então, realmente, não há como entender. Futebol é paixão à primeira vista.
Por isso, concordo com Carlos Drummond de Andrade, que disse que uma partida de futebol é mais disputada por torcedores do que por atletas em campo. O costume de não apenas ver, mas ouvir o jogo torna essa verdade ainda mais incontestável. A emoção transmitida por locutores de rádio, que fazem com que uma bola que passou a metros de distância do gol, tenha na imaginação do torcedor, magicamente, tirado tinta da trave, é motivo até de preocupação para pessoas que têm problemas cardíacos.
Imaginação. É uma arma poderosa no futebol. É fato que ser jogador profissional é a ambição de todo garoto que ama o esporte. E esse é um sonho que, se não realizado, nunca morre. Falta de talento não é problema. As peladas de fim de semana sempre vêm ao socorro. Não tenha dúvidas que aquele cara desengonçado, com aquela barriga de chope, está ali no campo se achando um Garrincha, um Zico, um Romário, feliz como uma criança. Por isso, esposas e namoradas, não fiquem de cara feia, nem cortem a onda dos seus companheiros. Não se brinca com sonhos infantis.
Imaginação. Só assim para passar por cima da crise eterna de Remo, Paysandu e Tuna, e, neste fim de semana, quando começar o Campeonato Paraense, torcer por todos aqueles pernas de pau, transformando-os em ídolos, do mesmo peso de Neymar, Ganso e Ronaldinho Gaúcho. Tudo pela esperança de que seus times, enfim, consigam corresponder a tanto amor, a tanta devoção. Sem dúvida, os verdadeiros heróis, os verdadeiros jogadores, não estão em campo. Estão nas arquibancadas. Certo, Drummond?

Texto publicado no Por Aí de 21 de janeiro de 2011. Era em virtude do início do Parazão, mas cai bem em dia de jogo do Brasil em Belém.