sexta-feira, 26 de novembro de 2010

I've got a feeling

"Chove chuva...”. Essa foi a senha para esquecer de vez o frio, a fome, o cansaço, os pés latejando e a costa em frangalhos de quem ficou por volta de dez horas na fila. Sir Paul McCartney entrou no palco, surpreendeu logo de cara com a mudança de repertório, mandando ver com Magical Mistery Tour, e brincou com a galera, citando Jorge Ben Jor como quem diz: “é hora do show, esqueçam tudo e vamos curtir”.
Pedido feito e atendido prontamente. Afinal, ninguém ali ousaria dizer não ao ídolo. Para aquelas 64 mil pessoas na noite de segunda-feira no Morumbi, McCartney era rei. Entre as músicas, soltava seus gritos e interjeições para, em seguida, ouvir a resposta do público, que repetia tudo. Até imitação de cachorro estava valendo. E nem tinha como ser diferente, todos estavam vivendo em outra dimensão. O momento era mágico: tínhamos um Beatle ali, a poucos metros de nós. Como descrever isso?
E Paul correspondeu a todas as expectativas. Do alto dos seus quase setenta anos, esbanjou vitalidade, simpatia – a plateia estourou em risos quando ele se assustou com um berro de uma fã e o retribuiu na mesma intensidade - e, naturalmente, talento. Deu aula de virtuosismo no baixo, na guitarra, no piano, no banjo... E, para completar, estava muitíssimo bem acompanhado. Que banda era aquela? “Maravilhosos”, parafraseando o bom português de Macca.
Cada um no palco mostrou o porquê de ter sido escolhido para tocar ao lado de uma das maiores lendas do rock, numa parceria que já dura nove anos. Os guitarristas Rusty Anderson e Brian Ray (que alternou com o baixo) impressionavam com seus solos; Paul Wickens (diretor musical) era mais discreto, mas não menos eficiente nos teclados. Porém, a grande atração da noite, fora o próprio Paul, claro, era o brilhante baterista Abe Laboriel Jr. Ele demonstrou uma entrega total no show e ganhou o público com seu desempenho e dancinhas que fazia quando não era exigida a sua participação no instrumento. O que levou Sir Paul a perguntar, em tom ironicamente surpreso: “Did you like Abe Laboriel?”.
Li alguns comentários no Twitter, principalmente do jornalista Ricardo Noblat, sobre certa “pobreza” na produção do show. Sinceramente, é querer aparecer. E justificar opiniões contrárias a essa como “cegueira de fã” é não ter argumentação. A pobreza aí é de espírito. E se ele não ficou arrepiado em “Live and Let Die” – fiquei completamente rouco depois dessa música - realmente não mereceu ter assistido ao show. Mas, ainda assim, que seja, não briguemos por isso. Pois McCartney poderia se apresentar sem estrutura alguma que o show valeria a pena do mesmo jeito.
Cada canção era um momento único. A Ingrid, que soltou a voz efusivamente até em “Ob-la-di Ob-la-da”, que ela não suporta, segurou as lágrimas até soarem os primeiros acordes de “Got to get you into my life”. Aí não ofereceu mais resistência. Já em “My Love” - que Paul escreveu para a sua “gatinha linda, mas que agora era dedicada a todos os namorados” – nada melhor do que abraços e beijos para comemorar o aniversário de namoro (data perfeita, não?). Só faltou “Maybe I’m Amazed” na sequência, mas essa eu canto no ouvidinho dela, sem problemas (ah, e ela também me deve uma costa nova por tê-la carregado em algumas horas para ver melhor esse “velhinho enxuto”, hehehe).
O cenário perfeito também aconteceu em “Blackbird”. Foi quando a chuva deu uma trégua e a lua cheia surgiu, meio sombria, entrecortada por algumas nuvens. Isso sem contar com as homenagens a George Harrison e John Lennon, com “Something” e “Here Today”, respectivamente, que fizeram o público fechar os olhos, erguer as mãos e prestar reverência. Isqueiros acesos na pista e pulseiras coloridas nas arquibancadas completaram o bonito espetáculo.
Ao final, uma certeza: esse show foi, sem dúvida, um dos momentos mais marcantes da minha vida. Antes, durante e depois. A agonia para comprar ingressos, os problemas pré-viagem, a espera na fila, a tia de João Pessoa, que parecia ter vindo direto de Woodstock, e que, com a maior cara de pau, furou na nossa frente, mas ninguém se queixou de tão engraçada que ela era; a chuva ininterrupta desde 14h, os pulos e a euforia rock’n’roll em “Helter Skelter”, “Back in the USSR” e “Day Tripper”, os corpos exaustos jogados no chão após os dois bis, além da volta para o hotel, molhados e mancando. Tudo valeu a pena. Feliz, muito.

“I've got a feeling, a feeling deep inside / Oh yeah, Oh yeah (that's right)
I've got a feeling, a feeling I can't hide
Oh no. no. Oh no! Oh no
Yeah! Yeah! I've got a feeling. Yeah!”









quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Com vocês, as Trash Dolls


A empresa americana Arsenic & Apple Pie (www.trailertrashdoll.com) lançou, em 2005, uma linha de bonecas nada convencional: as Trash Dolls, que mandam para o inferno as versões politicamente corretas da Barbie.
O doido que gosta de colecionar essas coisas pode escolher entre dois modelos, a Trash Talkin Turleen ou a Trailer Trash Doll. A primeira é uma americana "sofisticada", um modelo de mãe trabalhadora; a segunda, uma moradora de trailer com um Q.I. de não fazer inveja, segundo o site da empresa.
A Turleen é mãe de sete filhos e está grávida de mais um. Depois de horas de trabalho duro como garçonete, ela consegue passar horas de qualidade com seus filhos. A Trailer foi concebida num banheiro de posto de gasolina e criada à base de sanduíches de carne, óleo, queijo e cerveja.
Para finalizar, a boneca Trash Talkin Turleen diz algumas frases como: "Quero dose dupla, estou bebendo por dois" e "Se o trailer estiver balançando, não bata na porta". Só rindo mesmo... (Com informações do portal Terra)

The Walking Dead - Primeiras impressões

As portas do inferno foram abertas mais uma vez, dando passagem aos mortos, que voltam à vida para saciar sua fome de carne humana. Como, quando, onde e por que os ataques começaram são perguntas sem resposta. E, sinceramente, ninguém dá a mínima pra isso. Apenas uma coisa está em jogo: sobrevivência. Pronto, esse é o básico para qualquer produção sobre zumbis, não importa a mídia escolhida para se trabalhar. No caso de The Walking Dead, primeiro os quadrinhos, agora a TV.
A trama criada por Robert Kirkman não foge à regra. No comando de um grupo de sobreviventes de um apocalipse zumbi, o policial Rick Grimes cruza os Estados Unidos em busca de um local seguro para viver. E ainda há um clássico detalhe envolvido: o protagonista estava em coma no hospital e, após despertar, terá que se adaptar ao novo e perigoso mundo, enquanto procura pela esposa e pelo filho.
Não comecei ainda a ler os quadrinhos, cujos números de 1 a 70 já estão no meu computador – a série está na edição 78, se não me engano. Mas assisti aos dois primeiros episódios transmitidos em canal fechado no Brasil – Fox. O resultado? A cada cena, me vicio. Tenso, dramático e complexo. Esse universo não poderia ganhar vida de outra forma. Não é à toa que a televisão vem superando o cinema qualitativamente nos últimos anos.
Apoiada num forte esquema de marketing, além, é claro, da presença de um craque como Frank Darabont nos bastidores (produção e roteiro), a estreia de The Walking Dead foi aguardada ansiosamente por fãs do gênero de todo o mundo. E quando a hora chegou, não houve desapontamentos – uma ressalva apenas aos cortes que a Fox fez na exibição por aqui: 90 minutos nos EUA e 56 minutos no Brasil. Ridículo e sem explicação lógica.
Ainda assim, a paixão por esses corpos sangrentos e em decomposição acontece à primeira vista (macabro isso, né? Hehehe). Se a série teve algum defeito até agora, juro que não percebi. Dirigido pelo mestre do terror, Tobe Hooper (O Massacre da Serra Elétrica, Poltergeist), o episódio piloto possui uma estrutura cinematográfica bem definida, tanto na progressão dramática quanto no ritmo ágil empregado nas cenas de suspense.
Outro aspecto interessante é o desenvolvimento dos personagens. E isso será legal de acompanhar, pois na TV essa relação personagem-espectador tende a se tornar “íntima”. É inevitável a cumplicidade que surge daí – vide o que aconteceu em Lost. E ouso dizer que mais do que questões como roteiro, direção ou efeitos visuais, é nessa empatia com o público que reside o sucesso de uma série de televisão. Afinal, você não vai torcer, seja contra ou a favor, por temporadas a fio, se não se importar com o personagem.
The Walking Dead começou bem, muito bem. E mostrou a que veio logo na primeira cena, quando Rick dá de cara com uma criança zumbi e mete um balaço na cabeça da menina. Ela ilustrou perfeitamente o que esperar da série. O tempo da inocência ficou para trás. A humanidade regrediu. Os instintos primitivos estão em voga. A barbárie impera. É a arte imitando a vida. Só adicionando os zumbis...